Para conhecer Fernando Pessoa: as palavras e escolhas de Susana Ventura - um ensaio da professora Gabriela Silva
Hoje ganhei um presente especial, a professora Gabriela Silva me presenteou com um ensaio sobre Fernando Pessoa. Aqui está ele:
CAMARNEIRO, Nuno. No meu peito não cabem pássaros. Lisboa: Leya, 2011.
CAVALCANTI FILHO, José Paulo. Fernando Pessoa, uma quase biografia. Rio de Janeiro: Record, 2011.
LAGE, Rui. O invisível. Lisboa: Gradiva, 2019.
LUCINDA, Elisa. Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, romance. Rio de Janeiro: Record, 2015.
MORAIS, Ricardo Belo. O quarto alugado. Lisboa: Verso de Kapa, 2014.
SARAMAGO, José. O ano da morte de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
TABUCCHI, Antonio. Os três últimos dias de Fernando Pessoa, um delírio. Trad. Roberta Barni. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
PARA
CONHECER FERNANDO PESSOA: AS PALAVRAS E ESCOLHAS DE SUSANA VENTURA
Fernando
Pessoa é um dos mais importantes nomes da poesia do século XX. Sua
personalidade é reconhecida como significativa e peculiar no âmbito da
literatura e cultura portuguesa e tem influenciado escritores de ficção e
poesia na construção de suas obras. Não podemos nos esquecer de que ele também
é objeto de estudo de centenas de pesquisadores, tornando-se o ponto fulcral de
centros de estudos, departamentos, cátedras e temas de dissertações, teses e
pesquisas sobre sua obra e biografia.
Figura
emblemática, Pessoa foi plural e singular. Nascido em Lisboa, em 13 de junho de
1888, órfão de pai, ainda menino morou em África – a mãe havia se casado com um
cônsul – onde foi educado em língua inglesa. Anos mais tarde, retorna a Lisboa,
onde vive até o ano de 1935, quando falece, a 30 de novembro, de febre
hepática. Pessoa foi poeta, tradutor, crítico literário, redator publicitário e
editor. Amorosamente, Pessoa teve apenas um relacionamento, com Ophélia
Queiroz. Intermitente e diáfano, o namoro deixou como herança uma
correspondência numerosa e construída com imensa afetividade e gentileza. Sua
vida financeira não teve muito sucesso e a literária apenas com a sua morte é
que obteve notoriedade. Em vida publicou apenas um livro: Mensagem, em 1934. Entretanto, seus heterônimos, publicaram em
revistas, coletâneas e jornais, tornando-se conhecidos e suprimindo o seu
criador. Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares, além
de outros muitos (cerca de 136) são reconhecidos por suas diferenças
biográficas e poéticas. Cada uma das personalidades possui uma identidade única
e características que a tornava completamente diferente das outras.
Uma
das mais importantes ações de Pessoa, foi justamente a revista Orpheu, publicada em 1915, junto com
Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e tantos outros escritores e artistas. Orpheu é o marco do modernismo português
e publicou muitos escritores, além de compor o conjunto das revistas literárias
portuguesas que efervesciam e multiplicavam a literatura a cada nova
edição.
Além
dos estudos desenvolvidos a respeito de Pessoa, por pesquisadores como Eduardo
Lourenço, José Gil, Jorge de Sena, Jerônimo Pizarro, Tereza Rita Lopes, Antonio
Tabucchi, entre diversos outros nomes, o poeta também foi motivo e tema de
ficções. São conhecidas as narrativas de José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis; No
meu peito não cabem pássaros, de Nuno Camarneiro; O cavaleiro de nada, de Elisa Lucinda; O quarto alugado, de Ricardo Belo de Morais e O invisível, de Rui Lage. Contamos também com Réquiem e Os três últimos
dias de Fernando Pessoa, de Antonio Tabucchi. São muitas as derivações da
personalidade de Pessoa.
Não
apenas em narrativas escritas, o cinema também se apropriou da biografia
pessoana, como em Filme do desassossego
ou Conversa Acabada, de João Botelho.
O primeiro é uma leitura cinematográfica do Livro
do desassossego e o segundo das cartas de Pessoa e Sá-Carneiro.
Não
podemos esquecer da variedade de publicações, coletâneas, seleções e leituras
da obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos. Desde a sua morte, essas
publicações se multiplicaram e foram ao longo de anos sendo delineadas de
diferentes formas. Não obstante, sua obra se encontra em Domínio Público.
Uma
dessas leituras da obra de Fernando Pessoa é de autoria de Susana Ventura.
Escritora, professora e pesquisadora de Literatura Portuguesa, a autora
consagrou-se pela escrita de livros infantis, além de traduções e diversas
publicações de coletâneas de contos de nacionalidades diferentes.
Eu, Fernando Pessoa,
é uma história em quadrinhos que aponta para a biografia do autor, baseada na
carta a Adolfo Casais Monteiro, sobre a gênese dos heterônimos e na carta a
Luís de Montalvor (um dos fundadores da Orpheu).
Ilustrada por Eloar Guazelli, a obra foi publicada em 2013, pela Editora
Peirópolis. A publicação conta com uma apresentação de José Jorge Letria. A
narrativa passa pelas imagens recorrentes do imaginário pessoano, apresentando
ao leitor, traços biográficos e da criação literária do poeta.
Susana
Ventura, ainda organizou e publicou uma coletânea de poemas de Fernando Pessoa
e seus heterônimos, Apetece-lhe Pessoa?
Antologia poética de Fernando Pessoa para ler e ouvir, que foi a estampa pela
Editora Peirópolis, no ano de 2017. O livro ilustrado também por Eloar
Guazelli, traz a possibilidade de ouvir na voz de Susana e de José Jorge
Letria, os poemas que estão disponíveis através de um código QR. O passeio de
Susana pela obra de Pessoa leva-nos aos principais poemas de cada heterônimo e
também os poemas ortônimos.
Podemos
considerar as duas obras como um conjunto de leitura, em que são apresentados
traços biográficos e as singularidades da escrita heterônima de Fernando
Pessoa. Susana Ventura convida o leitor a visitar o universo pessoano, a
escutar as batidas do seu coração a passear pelas ruas de Lisboa, ou a voz de
seus heterônimos a dizer seus poemas, enquanto procuramos entender o mistério
dessa personalidade. É, ainda importante salientar que Pessoa tem sido cada vez
mais revisitado e pesquisado, o que nos permite pensar na leitura que a autora
apresenta da poética de Pessoa.
Apetece-lhe
Pessoa? Pergunta-nos Susana. É ao mesmo tempo um convite e uma certeza, de que
iremos passear pelos caminhos do autor e que seguiremos lendo as múltiplas
vozes que o compõem. É a delicadeza da percepção (e uma visão contemporânea) de
que o poeta teve em si todos os sonhos do mundo e que foi todos e tudo ao mesmo
tempo que entregou-se ao nada. O que nos intriga e provoca é justamente
entender essa obra tão complexa, variada e singular. Os livros de Susana,
oferecem essa possibilidade de conhecer e aproximar-se de Fernando Pessoa.
Resta-nos aceitar o convite e aproveitar o passeio.
Gabriela Silva tem doutorado
em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. É professora e pesquisadora de Literatura Portuguesa dos séculos XX e XXI.
Referências (obras citadas no texto)
CAMARNEIRO, Nuno. No meu peito não cabem pássaros. Lisboa: Leya, 2011.
CAVALCANTI FILHO, José Paulo. Fernando Pessoa, uma quase biografia. Rio de Janeiro: Record, 2011.
LAGE, Rui. O invisível. Lisboa: Gradiva, 2019.
LUCINDA, Elisa. Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada, romance. Rio de Janeiro: Record, 2015.
MORAIS, Ricardo Belo. O quarto alugado. Lisboa: Verso de Kapa, 2014.
SARAMAGO, José. O ano da morte de Ricardo Reis. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
TABUCCHI, Antonio. Os três últimos dias de Fernando Pessoa, um delírio. Trad. Roberta Barni. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
TABUCCHI,
Antonio. Réquiem. São Paulo: Cosac e
Naify, 2015.
VENTURA, Susana. Ilustrações. Eloar
Guazelli. Eu, Fernando Pessoa. São
Paulo: Peirópolis, 2013.
VENTURA, Susana. Apetece-lhe Pessoa? Antologia poética de Fernando Pessoa para ler e
ouvir. São Paulo: Peirópolis, 2017.
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