Leitura em tempos de pandemia e uma imagem



Tenho vivido o confinamento com apreensão, mas tentando estabelecer uma rotina que não deixe muito tempo para me preocupar demais.
Sou das pessoas, privilegiadas, que puderam parar e ficar em casa desde o dia 16 de março. Apesar de pertencer ao grupo de risco, sou a pessoa mais forte de minha família e, por isso, sou eu a sair de casa para compras, em geral realizadas uma vez por semana. Sou também a responsável pela produção da alimentação da família e pelo planejamento de como fazer para aproveitar ao máximo os alimentos e fazê-los durar.
A única coisa que consigo fazer com muita alegria é ler e espero mesmo que muitos consigam ter o alívio da leitura de fruição nestes dias difíceis.
Algumas  iniciativas me emocionaram: a do Colégio Miguel de Cervantes, que grava histórias para enviar por WhatsApp a mães que participam de um projeto social; a da Editora Pulo do Gato que disponibilizou materiais e pdfs de livros incríveis para ajudar neste momento.
Eu desejava um país em que todos comessem e morassem decentemente. Não tenho.
Eu desejava um país em que quase todos pudessem estar em suas casas em segurança hoje. Não tenho.
Mas faço o que é possível. Ao publicar aqui dois contos inéditos na última semana e colaborar com algumas iniciativas, como a que mencionei, do Colégio Miguel de Cervantes e a de Fabiana Vajman que cozinha e leva comida a pessoas que não têm casa e vivem na rua, tento fazer um pouco para aliviar o sofrimento das pessoas.
Aos que podem ler, que têm livros em casa, que têm acesso a livros eletrônicos eu desejo que o tempo de confinamento possa trazer mais consciência do que fazer após o desastre que está por vir e que levará milhares de vidas.

(A ilustração é de Roberta Asse para o conto "A princesa Alfinete" de Marie-Madeleine de Lubert, em que uma jovem é transformada em "metade baleia" e fica confinada num poço)

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