Ainda um conto para nos dar coragem! (direto de São Tomé e Príncipe)
Mais um conto, desta vez das ilhas de São Tomé e Príncipe, que são parte do Continente Africano e onde se fala português. Gosto especialmente desse reconto que elaborei a partir de uma história de coragem, que penso que possa nos ajudar a enfrentar o confinamento destes dias. Contem para mim o que acharam?
Uma boa amizade
Vivia sozinha uma velha senhora, sem jamais sair de casa. Mas nem sempre
tinha sido assim. Outrora ela vivera com uma filha, que um dia adoeceu
gravemente e, passadas poucas semanas, veio a falecer.
Foi tão grande o choque daquela mãe que ela se tornou absolutamente só.
Possuída pela tristeza, ela se arrastava sem procurar a companhia de ninguém.
No início de seus males, os vizinhos tentaram ajudar como puderam. Fizeram
visitas, tentaram em vão animá-la. Chamaram curandeiros e até mesmo um médico,
mas ninguém conseguiu tirá-la do estado em que passou a viver. Com o avanço dos
meses, a comunidade simplesmente deixou-a estar e ela, cada vez mais fraca,
terminou por cair de cama.
Numa manhã, ao abrir seus olhos, a senhora encontrou uma galinha
empoleirada na mesinha ao lado de sua cama.
Para sua surpresa, a ave falou com ela, cumprimentando-a com toda a
doçura e educação. Disse estar ali para fazer-lhe uma visita e prestar sua
solidariedade.
Ao ouvir as palavras da galinha, a senhora se mostrou bem incrédula e,
crendo estar sonhando, virou-se para o outro lado e tratou de voltar a dormir.
A galinha não se demoveu. Começou
a falar sobre o desagrado de sentir-se mal e de como a saúde é um bem precioso.
Tão boas e doces eram suas palavras que a doente se voltou novamente para
o lado em que estava a visitante.
A ave, mostrando extrema gentileza, continuou a falar e, com o passar dos
minutos, a senhora começou a participar, e a conversa entre as duas encheu as
horas seguintes.
Naturalmente, a dado momento, a enferma falou sobre sua angústia profunda
e sobre a imensurável dor de haver perdido sua única filha.
A galinha, então, pôs-se a contar sobre os predicados de seus quinze
amados filhos.
A doente, já gostando muito de sua visita, logo se interessou por saber
da vida dos filhos da galinha e muito se surpreendeu com a resposta:
– Ah, minha amiga, eram filhos maravilhosos. Mas, infelizmente, já não
estão mais comigo, morreram todos! Quinze lindos filhos, e todos mortos!
Vou-lhe contar como foi.Numa manhã, um falcão roubou-me dois filhotes, os mais
velhos. Mas eu ainda era bem jovem e tive uma bela ninhada de quatro lindos
pintinhos... Mal sabia eu que, poucos meses depois, minha dona os venderia a
uma vizinha que havia tido bebê e, parturiente, precisava de canja. Lá se foram
meus quatro lindos filhotes, já convertidos nos mais belos frangos que já se
viram por aqui. Embora a maior parte dos ovos me tenha sido sempre tirada tão
logo os punha, consegui chocar mais três ninhadas diferentes. A felicidade
parecia me sorrir. Mas um gato matou-me vários pintinhos numa noite, e, na
última temporada de chuvas, uma raposa assaltou o galinheiro e levou-me vários
outros.
“Por fim, no último verão, eu estava reduzida a ter comigo uma única
filha, mas ela acabou ofertada como presente de casamento ao afilhado da minha
dona. Assim fiquei sozinha no mundo... Mas tenho que viver, não é mesmo?”
A conversa prosseguiu entre as duas e, ao final daquela tarde, a velha
senhora sentiu-se suficientemente bem para se levantar e preparar uma merenda
para ela e para sua visitante. Merendaram ambas, conversando sempre.
Logo a seguir a galinha despediu-se, dizendo que voltaria no dia
seguinte.
Assim disse e assim o fez. E as visitas se repetiram nas semanas que se
seguiram.
Antes do final daquele ano,
a velha senhora se restabeleceu e voltou a viver sua vida com coragem
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